O que são as Empresas Aéreas Low Cost e como funcionam
Saiba a diferenças entre os modelos, a realidade brasileira e as lições de sucesso e insucesso pelo mundo.
Erland Araujo
12/14/20253 min ler


Como funcionam as Empresas Aéreas Low Cost e Low Fare
O transporte aéreo passou por profundas transformações nas últimas décadas, especialmente com a ascensão das chamadas companhias low cost. No entanto, termos como low cost e low fare são frequentemente usados como sinônimos, o que gera confusão — principalmente no Brasil. Para compreender de forma clara esse cenário, é essencial distinguir esses modelos, entender como eles funcionam na Europa e nos Estados Unidos, analisar a realidade brasileira e observar casos reais de sucesso e fracasso ao redor do mundo.
Low cost e low fare: conceitos que não são iguais.
O modelo low cost refere-se, essencialmente, a uma estrutura operacional de baixo custo. Ele se baseia na redução máxima das despesas por meio de frota padronizada, alta utilização das aeronaves, processos simplificados e venda direta ao consumidor.
Já o termo low fare diz respeito ao resultado visível desse modelo para o passageiro: tarifas estruturalmente baixas. No low fare, o preço reduzido não é promocional nem ocasional — ele é parte do desenho do negócio. O bilhete básico inclui apenas o transporte entre dois pontos, e todos os serviços adicionais são cobrados separadamente.
Em resumo:
Low cost é como a empresa opera
Low fare é como o passageiro paga
Nem toda empresa que vende passagens baratas opera, de fato, em um modelo low cost puro.
Muitos passageiros associam low fare a:
Conforto reduzido
Aviões antigos
Menor segurança
Isso é um mito. A diferença não está na segurança, mas no modelo de cobrança e na estrutura de custos.
Como o modelo funciona na Europa e nos Estados Unidos
Na Europa e nos Estados Unidos, o modelo low cost/low fare funciona de forma plena, contínua e estrutural. Companhias como Ryanair, easyJet e Wizz Air, na Europa, e Southwest, Spirit e Frontier, nos EUA, consolidaram-se ao aplicar rigorosamente os princípios do baixo custo.
Essas empresas operam com:
Frota padronizada
Aviões no ar o maior tempo possível
Uso frequente de aeroportos secundários
Altíssima densidade de passageiros
Tarifas básicas permanentemente baixas
O resultado é um sistema no qual voar deixa de ser um luxo e passa a ser um meio de transporte cotidiano.
O modelo low fare funcionaria no Brasil?
O Brasil possui demanda reprimida e grande potencial de crescimento, mas o low fare puro enfrentaria barreiras estruturais significativas. O cenário mais viável é a expansão de modelos híbridos mais eficientes, com maior desmembramento de serviços, incentivos fiscais, uso mais inteligente da infraestrutura e foco em rotas específicas de alta demanda.
Replicar o modelo europeu ou norte-americano em larga escala, no curto prazo, é improvável. Porém, avanços graduais são possíveis.
Existem fatores estruturais que dificultam a aplicação do modelo low fare clássico no país:
1. Carga tributária e custos operacionais
Combustível caro
Altas taxas aeroportuárias
Impostos estaduais sobre o querosene de aviação (ICMS)
Esses custos reduzem drasticamente a margem para tarifas muito baixas.
2. Infraestrutura aeroportuária
Poucos aeroportos secundários bem conectados
Concentração de voos em grandes hubs
Menor flexibilidade operacional
Isso vai na contramão do modelo low cost internacional.
3. Perfil do mercado doméstico
Longas distâncias entre cidades
Menor densidade de passageiros em várias rotas
Forte dependência de conexões
O low fare funciona melhor em mercados com alta densidade e rotas curtas.
Casos de Sucesso e Insucesso: o que o mercado ensina.
Sucesso:
Ryanair: símbolo máximo do low fare europeu, com tarifas mínimas e operação extremamente eficiente
easyJet: equilíbrio entre preço baixo e operação em aeroportos principais
Southwest Airlines: referência nos EUA, com foco em eficiência e cultura operacional sólida
Wizz Air: expansão agressiva no Leste Europeu com custos ultrabaixos
Insucesso:
WOW Air: colapso ao tentar sustentar tarifas baixas em rotas longas
Norwegian Long Haul: dificuldades financeiras com voos intercontinentais
Viva Air (Colômbia/Peru): fragilidade financeira em mercados com custos elevados
Avianca Brasil: exemplo de operação sem estrutura financeira sustentável, apesar de não ser low cost puro.
Esses casos mostram que vender passagens baratas não é suficiente — é necessário um ecossistema inteiro de baixo custo para sustentar o modelo.
